quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Acontece que a dor da saudade não passa, ela fica na espera. Esperando uma música, um cheiro, uma lembrança boba: é uma cretina.
A saudade é a pior racinha que existe, te espera o tempo que você tira pra tentar fingir que não a vê, pra te pegar quando você acha que já tá pronto.
A saudade é pior do que a morte, a morte acaba com a esperança de ter de volta... a esperança não, ela tá sempre te alucinando com idéias miraculosas e resoluções fantásticas, ela traz esperança de tudo se arranjar.
Podem dizer a vontade que eu não perdi pra sempre, mas deixa u contar: eu sou infantil, doentia, carente, emotiva. Eu preciso das poucas pessoas que eu deixo saberem de tudo isso.

Candura

Sentiu a dor de nascer curado de prazer e de qualquer tipo de benevolência divina. Sentiu a dor de nascer sem ter que nascer, sentiu a dor de nascer sem querer. Quando o leite da mãe secou a fome se tornou normal, já não doía. Viu irmãos nascendo, demorou até que visse aqueles como irmãos de sangue, até então eram só mais pessoas para dividirem o nada. Passou o tempo, a escola existia mas não muito. A escola era um experimento de riqueza entre a miséria, não fazia sentido dormir no chão e acordar cedo para ir para escola... acordar pra que? Largou a escola, precisava trabalhar. O trabalho não dava, pedir dinheiro não dava, mas roubar era uma dor. Roubar era um absurdo, mas depois da morte do irmão mais novo atropelado pelo carro da PM a revolta tornou o crime normal. Roubar era normal, já não doía.
A mãe crente, deixou de aceita-lo como filho, apesar dos pesares, ela tinha uma moral torta que sabe-se lá de onde tirou. Perdeu a mãe.
O tráfico virou família, um carinho no meio das facadas... um apoio e proteção. Não era um cara normal, tinha nos olhos uma doçura própria de quem sabe pra que veio ao mundo, e não era para aquilo: matar, roubar, vida com prazo de validade.
Felizmente aquela doçura saiu de seus olhos e ele soube se virar. Muitas lágrimas rolaram baixinho, de fora pra dentro, a cada corpo que caía a sua frente. A cada lágrima ele se via mais próximo do que devia ser, a cada lágrima ele sentia o gosto doce do olhar se misturar com o salgado da lágrima.
Certo dia numa dessas empreitadas, a lágrima não desceu pra dentro, desceu pra fora. Era sua mãe morta ali. Depois desse episódio, as lágrimas não voltaram a cair nem por dentro nem por fora, a doçura tinha se despedido junto com os olhos abertos da mãe jogada no chão. Olhos que diziam: Não era assim.
Numa emboscada levou um tiro no peito, para sua alegria. Momentos antes da morte ele voltou a sentir as lágrimas. De dentro pra fora, de fora pra dentro. Essas se misturaram à antiga doçura, que junto com o sangue faziam a mistura perfeita para o adeus final. Lembrou dos olhos da mãe e no momento do suspiro final...: Não era assim.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

...

Partidas serão sempre partidas. Crescerei e continuarei chorando como choro hoje com partidas.
Partidas sempre deixam migalhas, sempre deixam esperanças e amores. Deixam botões e um ponto sem nó. Deixam a saudade, a vontade de estar, a vontade de ser a pessoa que foi. Acredito que seja mais fácil para quem vai... Tudo que é novo tem a oportunidade de ser bom, quem fica, fica com os lugares partilhados, com o cheiro das ruas, com a música nunca mais tocada e com a tendência de morrer.
Queria saber pq vc foi, pq as coisas para parecerem certas tem que ser TÃO erradas?