quarta-feira, 12 de setembro de 2012

afinal ela é só uma garotinha...

Te perdoo pelas camas vazias, pelo seu lado na cama cheio e o outro não. Te perdoo, por todas as boybands que não tocaram no seu rádio, te perdoo pela casa cheia de nada, por todo conselho não dado, pela ausência nas comemorações, por nunca ter conhecido meu primeiro namorado, te perdoo por não estar quando eu precisava de uns trancos, te perdoo por não estar no meu casamento, te perdoo por não me levar até o altar, e nunca conhecer seus netos. Te perdoo por todas as noites de preocupação que eu não tive, te perdoo por não ter me ajudado a caminhar sozinha, te perdoo por não ter me deixado sonhar, te perdoo por não estar. Te perdoo por me fazer fugir, te perdoo por machucar minha mãe, te perdoo por ser você a causa de quase todos os meus pesadelos. Te perdoo por não te me visto virar uma mulher, te perdoo por ser desprezível. Te perdoo por ter sido o primeiro e único a realmente partir meu coração, te perdoo por não ter me ensinado a dirigir. Te perdoo por não estar na minha formatura e nem no open house do meu primeiro apartamento. Te perdoo por todo desprezo, por todo dia dos pais que eu não tinha o que comemorar, te perdoo por me ensinar a ser amarga. Te perdoo pelo amor guardado para uma próxima vez... Te perdoo por toda a vez que eu não tive proteção, te perdoo por todo sorriso não dado. Te perdoo pela memórias nunca escritas, te perdoo pelo meu medo, te perdoo. Esquecerei cada dia de dor, cada dia sem amor, cada dia de loucurae medo. Se aqui meu perdão se confunde com pena: eu te peço perdão. Te perdoo.
Talvez fosse para eu voltar atrás, e cuidar de quem devia ter cuidado de mim. Essa ferida eu não vou conseguir curar mas te perdoo, fica em paz e me deixa em paz.
A mulher de hoje escreve isso, enquanto a menina de 12/13 anos tenta entender... Eu explico para ela todo dia que todos erramos, tento explicar o porquê de toda aquela dor, tento acalma-la, mas ela ainda chora, afinal ela é só uma garotinha que sentava na varanda para conversar coisas das quais não entendia, ouvia Cat Stevens e  Beatles, achava o máximo as músicas bregas mal tocadas naquela violão velho. Ela fez o dever de casa, fez tudo que lhe foi pedido, cumpriu o combinado e hoje não entende... afinal ela é só uma garotinha.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Mãe

            Um mistério nos assombrou, não resolvemos, não temos pistas, nem lembranças brilhantes de vidas passadas que nos ajudem  a soluciona-lo. Aqui não é como nos seus seriados, aqui não tem corpos, nem cenas de crime, não temos testemunhas... A vida não imita a arte. A vida é isso aqui, essa cena sem vestígios de respostas. Não sei como você se sente, mas sei como eu me sinto. Vim para o mundo dentre outras coisas para ser sua guardiã (não sou uma das melhores), mas me sinto assim e por isso toda essa história já passou pela minha cabeça tantas vezes... Criei histórias, rancores, traições, paixões, amores... quem sabe? Ou então uma conveniência qualquer, uma oportunidade que alguém teve de iluminar a própria vida com você.
             Depois de muito pensar, imaginar várias avós para mim, depois de ficar horas olhando meus traços no espelho e tentando por mim achar a outra ponta dessa corda, eu me dei conta de uma coisa: o caráter é fabricado com cicatrizes e fogo, você sabe disso. O grande lance da minha conclusão é muito simples, você não precisa saber de nada disso, por saber exatamente onde e porque está. Você veio para consertar, embalar, cuidar, criar, crescer, mimar, amar esses reles mortais. Apesar dos pesares você não nota, mas você fez seu mundo assim que nasceu, porque você não pertence a esse lugar... Você veio de longe, você resolveu voltar... Você não é filha daqui, você é filha de lá, você é filha da luz. Você é luz.