segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Filho da Lua

Sentada olhei de longe uma vidinha, um menino de uns 10 anos, vendendo chicletes no meio do bar. Antes fosse a revolta ou a tristeza, ele não traz tristeza, nem lembra tristeza. Aquele menino tem uma luzinha, vai de mesa em mesa, de olhar em olhar, ele recebe pena, nojo, graça, amor e por último dinheiro. Ele chega em cada mesa dá um rodopio, mata um dragão, salva uma princesa, pula rios de fogo e depois te oferece um chiclete com um sorriso de dever cumprido. Sua vida, de bar em bar, de chiclete em chiclete, de medo em medo, de fome em fome, não lhe tirou uma coisa... a estrela do olhar. Não serei hipócrita, não acredito honestamente que ele consiga ser um grande advogado ou um profissional de primeira linha um dia, meu conto de fadas não é esse. Ele é grande; só porque é, ele não precisa de mais nada, mesmo que precise de tudo, ele vence noites e noites pra chegar em casa ajudar a mãe com o dinehiro dos chicletes e ver um programa de tv, chegar em casa e mostrar que é um pequeno homem. Muitos caras adultos devem se perguntar como ele sorri, devem fazer desdém e citar governos hipócritas, mas no fim o que vai adormecer com eles se assim conseguirem lembrar será: como ele sorri? Ele só tem 10 anos e passeia pela noite... ao vê-lo andar para longe imagino os perigos que ele corre a cada esquina, a cada faixa atravessada entre motoristas bêbados, a cada boca de fumo que ele vê, a cada perigo da noite, me desespero, fico olhando ele se afastar e se misturar na cor da noite e de repente eu percebo que a noite é sua grande protetora, percebi que a noite o guiava e cuidava daquele anjinho. Ele faz parte dela e ela dele. Ele pode nunca voltar na minha mesa, ele pode nunca voltar pra casa, ele pode nunca ser nada... mas ele é luminoso e iluminado pela noite. Ele é filho da Lua.

Um comentário:

  1. talvez você nunca entenda o que a leitura causa em um leitor... na verdade, creio que me equivoquei, pois mais do que eu você é uma leitora! a percepção crítica da sociedade é rara de se encontrar nos dias de hoje... Confesso que de todos os seus textos, este é o meu favorito! Continue com o seu brilho!

    De: Seu leitor assíduo!

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