domingo, 22 de agosto de 2010

6 da manhã

Dentro das roupas rotas e debaixo de uma pele engessada pelo barro que os carros levantam, pé ante pé ia chegando já em casa. As pernas doem, a coluna dói, a cabeça queima com o sol, o sangue seca com a falta d'agua, o coração já bombeia areia e só. Chega em casa e finalmente a realeza pode se manifestar. Naquele momento, sua coroa volta à cabeça. A mentira pode acabar ali, entre aquelas paredes, vocês me perdoem, mas ela reinava. Podia parar de fingir ser doméstica, podia transbordar sua graça. Seus súditos? Quem precisa de súditos? Uma verdadeira rainha governa até os átomos e decidi permitir que eles existam, e sempre os permitia. Fora do mundo fantasioso onde a rainha lava chão, o mundo é até bem justo, entende? Fora os calos e a cara de gente sofrida, quase não se vê sinal da desgraçada fantasia. Ela vibra quando a orquestra começa o sertanejo que ela tanto gosta, corre para aumentar o volume do rádio. Entra no banho, quando sai enrolada na tolha percebe seu príncipe encantado logo ali, ele sabe o que fazer, sempre soube. E fica ali sua majestade dançando e cantarolando no meio da sala, sozinha, mas cercada por todos que a querem tão bem. Enquanto ela gira, o mundo pára, nenhuma poeira, nenhuma patroa, nenhum detalhe imperfeito para a nossa rainha. E ela gira, gira, gira...

Nenhum comentário:

Postar um comentário